O chefe já estava pra lá de irritado com
os constantes atrasos do Almeida. Ele até que era um bom funcionário. O grande
Almeida era gentil, prestativo e muito simpático, mas os atrasos e as desculpas
esfarrapadas que ele insistentemente apresentava estavam jogando contra ele.
Vira e mexe ele chagava atrasado ao
trabalho. Uma vez foi por causa da tia Ana que morreu, outra vez foi a vó Maria,
outra a mãe de criação, depois um vizinho que era mais que um pai. Problemas
mecânicos então, já tinham perdido a conta... Dariam para fazer a felicidade de
qualquer oficina.
O fato é que o chefe do Almeida já
estava farto de tantos atrasos e desculpas. Ele estava disposto a colocar ordem
naquele escritório. Ele resolveu colocar um fim naquela situação. Ele foi falar
com o Almeida.
- Dona Márcia onde está o Almeida?
- Chefe, o Almeida ainda não chegou.
- Como assim não chegou? Já são oito e
quarenta da manhã. Ele está atrasado de novo?
- Acho que sim chefe.
- Esse Almeida!
Enquanto eles ainda conversavam eis
que, quem entra no escritório?...Quem?...A Dona Alzira para servir o
tradicional cafezinho. O assíduo do Almeida só chegou três minutos depois.
Assim que o Almeida entrou no
escritório ele logo avistou o chefe. Vendo que a situação não estava nada boa para
ele, sem perder tempo, o Almeida tratou de ir mandando as costumeiras desculpas
prá cima do chefe:
- Chefe, Márcia, bom dia!...Chefe!
Desculpe-me pelo atraso. Eu levei mais de trinta minutos dentro do carro... Já
sei. Interrompeu o chefe. O trânsito estava uma droga... É muito carro nas ruas
de São Paulo. Um dia isso ainda vai parar... Eu já conheço tudo isso. Almeida
são as mesmas desculpas de sempre. O
Senhor não tem jeito mesmo.
- Não chefe! Não foi nada disso. Não é
mais uma desculpa não. O trânsito estava excelente. Até parecia época de
férias. Só acontece comigo chefe. O senhor pode até não acreditar, mas é a pura
verdade: o meu terno ficou preso lá naquele lugar que a gente prende cinto de
segurança. Quando eu fui prender o cinto eu prendi junto o meu paletó. Por mais
de trinta minutos eu tentei o cinto e a roupa de lá. Eu não consegui. Fiz
promessa, oração e tudo. Não teve jeito, o terno ficou lá... A minha sorte é
que ia passando...
Chefe! Aproveitando que o senhor está por
aqui... O senhor viu o curingão ontem? Diz aí foi um jogaço não foi?...Aquele
timinho do senhor, francamente!...Chefe, aquilo ali ainda vai te dar muita
tristeza. Acho melhor o senhor renovar o estoque de analgésico... Jogando
daquele jeito eles ainda vão conseguir conquistar uma vaga na segundona... E a
senhora sua mãe chefe, ela melhorou daquela crise de labirintite?
Esse era o pontual e simpático Almeida...
Edilson Rodrigues Silva